quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A Nova "Nobreza" da internet.

Antes de ser um blogueiro sobre heráldica, gosto muito de ser um leitor. Sou leitor assíduo do Dibujo Heráldico, do Xavier Garcia e Mesa, bem como (e até ainda mais) do Crónicas Heráldicas, do Juan José Carrion Rangel.

Estava novamente lendo estes dias, durante as minhas férias, e encontrei um excelente diálogo, evidentemente fictício, tratando da "ostentação" que alguns fazem sobre seus brasões, títulos e suposta "nobreza". Passo a citá-lo, em tradução livre:

E um diálogo entre um verdadeiro militar (com tão somente uma ou duas medalhas após trinta anos de serviço e um par de missões na Ásia) e um cavaleiro de alguma destas "ordens", com o peito coberto de metal tilintante, poderia ser similar a isto.

-E todas estas medalhas, de que são?
-Já te digo. 
-Essa grande cruz vermelha, por exemplo. O que fez para ganhá-la? 


Colar da Ordem da Zabumba Inconclusa. ©Xavier Garcia y Mesa

-Bom, na realidade significa que sou cavaleiro da Ordem da Zabumba Inconclusa.
 
-Ah... (silêncio). Bom, e que méritos fez para pertencer a esta ordem? 
-Então, olha... Eu paguei para entrar. Enfim, é... bom... bonita festa, né? Ei, eu te apresentei ao marquês do Álamo Estreito? 
Imaginem a cara do verdadeiro militar.
Essa conversa é perfeitamente aplicável em terras brasileiras nos dias de hoje. Há uma profusão de páginas na internet clamando supostos direitos de herança sobre títulos nobiliárquicos e soberanos. Algumas destas chegam a distribuir entre os seus leitores, amigos e colaboradores "títulos honoríficos". Em algumas páginas, contei, para apenas UMA PESSOA, 21 títulos, dentre eles quatro principados, três marquesados e seis títulos de Rei de Armas. SEIS! O que infelizmente só prova que uma parte dos heraldistas, mais usualmente os monarquistas megalômanos, tem um dedo nisso, ou pior, um braço inteiro nisso.

Sou aficionado por heráldica desde os meus 14 ou 15 anos, e nos últimos dois anos, passei a levar a matéria mais a sério, aproveitando a imensa quantidade de material de pesquisa sobre o assunto disponível na internet. Sou também defensor da Monarquia Constitucional, no Brasil. Não de uma Monarquia de extrema-direita como a maioria dos monarquistas nesta terra  defende, mas ainda assim, sou um monarquista. Mas se posso dizer que não sou algo é megalômano.

Dialoguei algumas vezes com esses tipos que se dizem condes, marqueses, príncipes e seja lá mais o que forem. Geralmente me pedem que produzam heráldica para eles, em troca de um título de nobreza ou um posto de Arauto, Passavante ou do gênero. Desse tipo de nobreza, Já sou Príncipe de Lisander, minha nação fictícia, e Grão-Mestre da Ordem do Arminho, ordem tão fictícia quanto a nação. Não preciso de nenhum título (a não ser que ele inclua vultosas somas em dinheiro, assim eu posso me sustentar vivendo sozinho numa capital de estado, o que não é muito fácil.)
Brasão de Armas do Príncipe de Lisander, com o colar da Ordem do Arminho.
Na vida real, comparado às dezenas de honrarias e títulos e honrarias que estão sobrando por aí, a pender e timbrar brasões por aí, sou bem mais modesto. Sou membro apenas da Ordem Sagrada dos Soldados Companheiros de Jacques DeMolay, popularmente conhecida como Cavalaria DeMolay, uma ordem paramaçônica juvenil. E nem esta tenho me dado ao luxo de ostentar, afinal já há dois anos, por conta dos estudos, estou afastado de qualquer função ativa nela. De que serve uma honraria a não ser para premiar méritos?

Faço minhas as palavras de Francesc Piferrer em seu ''Tratado de Heráldica y Blasón , que perfeitas para o caso da Ordem da Zabumba Inconclusa, também se adequam muito bem a todo este caso sobre o qual estivemos falando aqui.


Os pontos 13 e 15 são os melhores.