Para começar essa nova fase deste tedioso blog, trago um projeto muito interessante que encontrei no blog Heraldica Nova, referência em projetos de heráldica em nível acadêmico. "A serviço da Coroa: O uso da heráldica na comunicação política real no Portugal do fim da Idade Média" é um projeto que está sendo desenvolvido por Torsten Hiltmann, da Universidade de Münster e Miguel Metelo de Seixas, da Universidade Nova de Lisboa. Abaixo está parte da apresentação, que pode ser lida na íntegra e em inglês neste link.
A Heráldica Portuguesa parece ter tomado um rumo bastante peculiar. Em comparação com outras regiões, como França, Inglaterra e Alemanha, em Portugal a heráldica evoluiu bastante tarde e surpreendentemente diferente. Apesar da riqueza das fontes e os insights surpreendentes que podem fornecer, a comunicação heráldica portuguesa no fim do medievo continua a ser pouco estudada, especialmente no resto da Europa. Graças ao generoso financiamento do Volkswagen Stiftung, Eu e Miguel Metelo de Seixas e nos propusemos a mudar isso dentro dos próximos três anos. Um dia antes do Natal do ano passado, a fundação nos informou que a nossa proposta de projeto de pesquisa colaborativa Alemão-Português havia sido aceita. Assim, estamos agora em condições de instalar um novo sub-projeto dentro do Projeto ''Performance of Coat of Arms'' que incidirá sobre as particularidades da heráldica portuguesa no final da Idade Média, e, especialmente, a sua utilização em comunicação política real.O que há de tão especial sobre Portugal?
Portugal mostra-se um estudo de caso interessante por causa da centralização inicial da autoridade real. Isto reflete-se na criação de um discurso confirmativo dessa autoridade, na teoria política e também na comunicação visual. Vários membros da família real de Avis (os reis João I e Duarte,e os príncipes Pedro e Henrique) escreveram eles próprios ou traduziram textos sobre doutrina política (specula principis). Suas idéias salientam o papel do rei como o possuidor de um poder que, embora certamente de origem sagrada, também baseava em um conceito neoplatônico. Este conceito integrado os membros da comunidade política dentro de uma estrutura hierárquica em que todos tinham a sua função: A tarefa do rei, como juiz supremo, é preservar o equilíbrio deste sistema de acordo com os princípios de justiça.
Ao contrário da situação na maioria dos outros reinos da Europa, os reis portugueses reclamaram para si autoridade exclusiva sobre heráldica e os meios de sua expressão monumental e visual. A coroa criou ela mesma uma autoridade heráldica que, teoricamente, todos os súditos do rei tinham que obedecer. A criação de um programa heráldico monumental fez esta submissão visível.
A legislação heráldica portuguesa garantia este controle real, concedendo a coroa o direito de decidir a quem era permitido portar armas (Lei de Afonso V em 1476). Além disso, criou-se uma autoridade central (Portugal Rei de Armas), que decidia que armas eram pertencentes a quem, ao mesmo tempo que mantinham um controle rígido sobre a exibição das próprias armas reais (lei de 1521). Era oficialmente proibido representá-las sem a permissão explícita do rei.