sábado, 9 de janeiro de 2016

Manicongo (Rei do Congo)


Mais cedo, apareceu em um dos grupos de Heráldica que frequento um desenho das armas do Rei de Manicongo, cujo Brasão eu descrevi, pelo desenho, como sendo:
De vermelho, cinco braços armados de prata com espadas, postos em sautor. Chefe cosido de azul carregado de uma cruz flordelisada de prata, acompanhada de quatro vieiras de ouro. Ponta embutida de prata, carregada de um escudete de azul, carregado de 5 besantes de prata em sautor, ladeado por dois ídolos de sua cor partidos ao meio.

O Rei de Manicongo, expressão pleonástica, pois na língua nativa o título é Manwe Kongo, teve um primeiro contato com os portugueses por volta de 1483, numa expedição de Diogo Cão. Possivelmente impressionado com a cultura europeia, o então Rei do Congo converteu-se ao cristianismo, e passou a imitar os costumes portugueses, construindo igrejas e palácios. Este Rei recebeu de D. Manuel de Portugal (que era um grande interessado em Heráldica) uma carta de armas, que pode ser lida aqui, a partir do segundo parágrafo.

Dessa vez minha paciência para desenho heráldico não deu para desenhar os ídolos, afinal eu não sou bom com figuras mais complexas, então usei um vetor do Ssire, licenciado via Creative Commons. Fica a minha versão das armas de Manicongo.




Na segunda metade dos anos 1600, um francês a serviço de Portugal, Alain Manesson Mallet,  esteve viajando pelo mundo conhecido, e em seu livro Description de l'univers, apresenta para o Congo umas armas, às quais encontrei sendo vendidas no Ebay pintadas da seguinte forma:


Estranhei. O campo de linhas verticais para vermelho estava correto. Mas os escudetes não poderiam ser de ouro. Faltavam ali os pontilhados que indicam a cor de ouro nos escudos. Presumi que eram de prata, e para tirar a dúvida fui em busca da fonte. No Description de l'Univers, encontrei-a, agora corretamente:
de Gueules, à la croix d'argent cantonée de quatre escussons de mesme chacun chargé de cinq tourteaux de sable posé en sautoir.
Traduzindo:
De gules, uma cruz de prata, acantonada de quatro escudetes do mesmo, cada um deles carregado de 5 torteaux (besantes de sable) postos em sautor.


Assim sendo, a versão correta seria assim:



No entanto, ainda no mesmo parágrafo, outros falam da seguinte forma as armas do Congo.

de Gueules, à la croix flouronée d'argent, chargée en cœur d'un escusson d'Azur chargé de cinq besants d'Argent posé en sautoir à la bordure d'Azur chargé dans chaque angle de deux Coquilles d'Or.
Traduzindo:
De gules, uma cruz flordelisada de prata, carregada de um escudete de azur carregado de cinco besantes de prata postos em sautor. Bordadura cosida de azul carregada em cada ângulo de duas vieiras de ouro.
Nesse, para ser sincero eu fiquei com alguma dúvida. O brasonamento diz dois em cada ângulo, então o escritor pode ter considerado como ângulos apenas os cantões do chefe, já que o escudo ibérico usualmente tem pontas arredondadas. De toda forma, considerei os cantões da ponta como ângulo também. Minha versão ficou assim.


2 comentários:

  1. Post muito interessante.

    Aparentemente, o formato do escudo não interfere na contagem dos ângulos, como mostra esse exemplo.

    O Armorial Lusitano dá um brasão para o Manicongo similar à primeira imagem, mas com os ídolos dispostos de outra maneira.

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  2. Todo e qualquer estudo ou comentário sobre uma assunto heráldico é sempre interessante. É o que eu chamo de "LENDAS HERÁLDICAS", devido a aspectos muito curiosos em cada caso, como origem, significado, interpretação, representação gráfica, etc. etc. Mas veja-se o que acontece quando se compara uma ilustração/iluminura heráldica de um mestre do século XVI, no caso o português António Godinho, por volta de 1511, feita a mão, com o resultado digital do mesmo tema......é só olhar acima. Não vou dar aqui a minha opinião, cada interessado que faça sua comparação e forme sua opinião. Divirtam-se...!!!!!

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