sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Como eu vejo a heráldica brasileira


Esses dias, o Leonardo Piccioni, do Registro Heráldico Brasileiro, me pediu para falar um pouco sobre como eu via a heráldica brasileira, para um trabalho de faculdade. Não sei que faculdade é essa onde você pode fazer trabalhos sobre heráldica, mas já quero fazê-la. Escrevi algumas coisas que estavam na minha mente. O texto é bem informal, então perdoem lá algum vício gramatical.

Eu acho que a heráldica de domínio do Brasil está num caminho sem volta para o buraco. Os princípios básicos de heráldica são desconhecidos até por muitos admiradores da matéria. Entre as bobagens que eu já li na internet, uma das que mais chama atenção é que o listel é a certidão de nascimento da localidade. Isso meio que expõe toda a fragilidade do sistema de símbolos que se criou aqui desde que as cidades passaram a adotar brasões para lhes representar. Criou-se toda uma nova definição de heráldica no século XX, que permite que qualquer coisa, como por exemplo, um balão, seja considerado um brasão de armas. 

E essa nova definição de heráldica acabou se espalhando para tudo quanto é lado. Heráldica de Domínio, Corporativa, Eclesiástica. Está tudo contaminado, por assim dizer. A vexilologia seguiu esse caminho, ou melhor, foi puxada para ele. Os emblemas que as pessoas consideram heráldica acabam estragando o potencial visual de bandeiras que por vezes seriam excelentes sem os tais símbolos. 

Porém, não se pode dizer que é culpa só da falta de conhecimento. A heráldica no Brasil nunca foi forte como em Portugal ou Espanha. As armas imperiais brasileiras podem ser consideradas a inquirir, com sua orla azul sobre campo verde. Mesmo na época do Império havia seus problemas. Até em Portugal havia confusões relacionadas a armoriais. 
A heráldica brasileira tem, apesar disso, um extremo potencial quando se trata de armas assumidas. Eu sou extremamente esperançoso nisso, e fico muito feliz quando um jovem, entre os 15 e os 30 anos, pede entrada no grupo de Heráldica que eu criei. Diferente dos mais velhos, que acabam seguindo à risca a mentira dos Brasões de Sobrenome, prática incitada por uma maioria de heraldistas inescrupulosos para ganhar alguns trocados, os jovens são mais interessados em ir a fundo nas pesquisas, comprovar e fazer valer seus direitos. Gente como eu, como você (Leonardo), como o Danilo Martins. Esse pessoal novo que tem potencial e com acesso a bons conteúdos, pode ir bem mais adiante. 
Eu considero importante que se conheça e se mantenha todo o conhecimento que temos disponibilizado até agora. Eu conversei com o Renato Moreira Gomes, um senhor de mais de oitenta anos que tem em seu poder praticamente toda a heráldica do Brasil. Eu tenho medo de que acervos como o dele sejam perdidos para o futuro, de que todo esse conhecimento acabe abandonado numa biblioteca qualquer, trancado a sete chaves como está trancada a coleção de trabalhos do Gustavo Barroso. Eu quero ser parte desta manutenção e desta reabilitação. 
Eu sonho com o dia que verei um curso de pós-graduação em Heráldica no Brasil, assim como há na Espanha. Acho que o Brasil só vai ter uma heráldica ao menos digna de nota quando houver um consenso entre os estudiosos, quando as intrigas pessoais pararem de ser mais importantes que o conhecimento, e isso vale desde o Eduardo de Castro me permitindo acesso ao grupo dele até a Vera Lúcia Bottrel Tostes disponibilizando os arquivos do Gustavo Barroso para consulta pública.
Não sei se vai acontecer, mas espero que aconteça. Até lá teremos que viver com a tal da nova definição de heráldica.

2 comentários:

  1. Para registro: Eu estudo Sistemas de Informação na USP. A matéria, no caso, era "Empreendedorismo em Informática", obrigatória. Sua contribuição foi muito valiosa para nosso trabalho.

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