quinta-feira, 31 de março de 2016

Badges ou Insígnias pessoais

Minha irmã fez anos antes de ontem. Até parece que foi hoje que eu fugi da escola para ver ela recém-nascida, mas já completaram-se onze anos. Era só uma bolotinha cheia de cabelinhos pretos. E hoje, já crescida, como é comum para as meninas de sua idade, adora princesas. 
Armas da Princesa Branca de Neve.
Para esse ano, pensei em um presente diferente, que a fizesse se sentir ao menos um pouco como uma princesa real. Com uma ajudinha do pessoal no grupo da International Heraldry Society no Facebook, cheguei a este resultado final:
Um monograma, feito a partir da letra da minha irmã, dentro de uma lisonja encimada por um coronel ornamental, que não representa especificamente nenhum grau de nobreza na heráldica ibérica, da qual deriva majoritariamente a brasileira. Aproxima-se mais dos coronetes ducais britânicos, ou das coroas de nobres não titulados do leste europeu. A composição poderia até mesmo ser brasonada, como...
Lisonja de prata, um L de púrpura. Por timbre, um coronel de quatro florões de ouro, sendo três visíveis, intercalados por quatro pérolas, duas visíveis,
 ...porém faz mais sentido, sendo um monograma, considerá-la um badge ou insígnia. que é a definição para um símbolo pessoal que usualmente não se exibe em forma de armorial, seja em escudo, lisonja ou estandarte. Diferencia-se das armas, que na época da popularização da heráldica, se tornaram um bem familiar. Badges eram e são utilizadas para indicar posse, e assim como armas, podem ser herdadas.

 Charles Boutell, em seu famoso "Heraldry", dá a seguinte definição para o que seja um badge:
Uma empresa assemelha-se a uma carga heráldica, sendo uma figura ou um objeto assumido como reconhecimento distintivo de um indivíduo em particular ou de uma família. Mas diferente de uma carga, pode ser exibida sozinha, sem um escudo ou qualquer outro acessório, com a exceção, às vezes, de um lema.
Essa definição de figura única é válida em geral, mas não digo que se considere universal, afinal muitas empresas recorrem à modificações da figura, ou mesmo a adição de coroas ou outros ornamentos externos, como por exemplo as Plumas do Príncipe de Gales.
Plumas do Príncipe de Gales, Imagem da Clarence House.




De certa forma, apesar de não se considerar de bom gosto legendas escritas dentro de escudos, Monogramas também podem ser considerados badges.

Insígnia da minha irmã. Dei um carimbo dela como presente de aniversário.

terça-feira, 22 de março de 2016

Registros Heráldicos

A República efervesce lá fora. Aqui dentro, no âmbito da minha monarquia particular de alguns metros quadrados, vivemos eu e a princesa Manuela, uma filhote de Jabuti que fez morada nos cantos escuros deste reino-quarto, onde está tudo em paz. Por aqui ainda não se vê armoriais enfeitando as paredes, mas quem sabe um dia não consiga alguma certificação, mesmo que extra-oficial, para colocar por aqui. Para hoje, no segundo artigo na série de dicas para a realização de suas próprias armas (Confira o primeiro artigo aqui), vamos falar de registros e certificações privados de heráldica, pois infelizmente a maioria das nações carece de um Rei de Armas ou de um corpo heráldico oficial.


Para garantir que suas armas sejam reconhecidas, é muito importante que você as exiba. Afinal ninguém quer que armas iguais às suas apareçam. Além disso, é importante também que você as adicione o seu brasão a registros. Serve para garantir provas num eventual caso de usurpação de armas.


Em caso de você ser brasileiro e possuir algum parente enobrecido na família, é bom consultar o Instituto da Nobreza Portuguesa, que parece lidar com matérias destas, inclusive de brasileiros. Às vezes, a diferenciação correta no brasão é necessária, para garantir que você não use o mesmo brasão de um parente. Um e-mail pode ser enviado com mais dúvidas para o Secretário do INP, apesar de que eu não tenho certeza se ainda este e-mail está ativo. Para todos os efeitos, pode-se tentar ainda o endereço físico, que para este não há falha.
Desenho das Armas do INP por Miguel Boto.

Palácio Fronteira
L. S. Domingos de Bemfica, 1
1500-554 Lisboa, Portugal

Caso você não consiga traçar seu caminho genealógico até nenhum nobre e tenha escolhido registrar armas novas, há alguns registros na internet, para os quais você pode enviar suas armas pessoais.

O Registro Heráldico Brasileiro, do Leonardo Piccioni, grande heraldista do qual eu já falei algumas vezes aqui no blog, é um dos mais simples e acessíveis. Todas as informações e como pedir o registro estão na página.

Internacionalmente, há mais alguns registros, e alguns deles emitem certificações. Alguns registros são gratuitos, como é o caso do Registro do Heraldry of the World, sediado na Holanda, do RIAG, Registro Internacional de Armas Gentilicias, sediado na Espanha, e o do United States Heraldic Registry, sediado nos Estados Unidos. No entanto, por uma pequena taxa, estes dois últimos podem criar uma certificação, que mesmo que não tenha valor legal, faz um bonito quadro para se pendurar na parede. O RIAG cobra 75 Euros, e o USHR cobra entre 20 e 100 dólares pela certificação. O segundo pode enviar o certificado em PDF, para que você mesmo o imprima.


Saindo dos registros gratuitos e indo para os pagos, há o Armorial Register, que cobra entre 100 e 110 libras pelo registro, que inclui um certificado simples, e mais 45 libras por uma certificação graficamente elaborada. Este registro é publicado periodicamente. Já foram dois livros, que também estão disponíveis no website deles.

quarta-feira, 16 de março de 2016

As armas dos Brito

Esses dias, andando pela rua, vi um cartaz para uma festa beneficente, organizada pela Fundação Alzira Alves de Brito, uma entidade local de assistência a idosos.


Gosto de entidades assistenciais. Seu esforço por ajudar os outros me encanta. Ainda mais quando se representa com armas. É bem verdade dizer que sem uma pesquisa genealógica estas armas talvez estejam sendo exibidas de forma incorreta, mas dessa vez eu vou me ater mais às armas em si. Sobre direito a usar armas você pode ver esse post, onde eu falo um bocado sobre.

Hoje, vamos abrir as páginas do Armorial Lusitano e falar nas armas dos Brito, que aparecem no cartaz.
Armas dos Brito. O Leão é originalmente do Jussi Kärnä, desenhista heráldico finlandês.
 As armas dos Brito são de vermelho, nove lisonjas de prata apontadas e firmadas nas bordas do escudo, postas 3,3 e 3. Cada lisonja carregada de um leão de púrpura. Por timbre, o leão do escudo. Relata ainda o Armorial que estas armas são utilizadas na Espanha. O que confirma José de Avilés em seu livro Ciencia Heroyca, nos dando o seguinte brasonamento:

BRITO en España, y Portugal , trae de gules, y nueve Losanjes de plata; cargado cada uno de un Leoncillo del campo; esto es, de gules.

Notem que estes Britos usam os leões de cor diferente. Possivelmente isso se deve ao fato que em 1780, quando a obra de Avilés foi publicada, e com frequência até 2014, o leão que aparecia nas armas reais espanholas era vermelho. Apenas com a chegada de Felipe VI ao trono, o monarca espanhol voltou a apresentar o leão em sua cor correta, o púrpura.

Armas do Reino da Espanha, versão heraldicamente correta. As armas de Leão aparecem no segundo quartel.

Assim sendo, conclui-se que estes Britos armigerados possuem alguma ligação com o Reino de Leão. Voltando ao Armorial Lusitano, passo a citar:
"Fazem alguns autores tronco da linhagem a D. Haro, Grande senhor que viveu antes de D. Henrique (pai de Afonso Henriques, primeiro Rei Português)."
Pois, se antecede a Dom Henrique, era senhor vassalo dos Reis de Leão, o que justifica perfeitamente a escolha de armas.

Uma última curiosidade. Esta aprendi recentemente, no Dibujo Heráldico, do Xavier Garcia (Link na barra lateral do blog). Ao se brasonar em espanhol, pode-se trocar o termo leones por leoncillos, quando os animais aparecerem no escudo em um número superior a quatro.

terça-feira, 15 de março de 2016

Achados Heráldicos: As armas de Olinda

Desde que voltei para a minha cidade, os achados heráldicos diminuíram consideravelmente. Na capital, onde é tudo mais caro, mais ativo e mais histórico, eu via brasões de várias cidades. Principalmente nos Táxis.

Nessa foto, que já tem uns dois anos, aparecem as armas de Olinda, Pernambuco, num Táxi. Estas, apesar de aparecerem no site oficial da prefeitura e na bandeira da cidade, não são as armas oficiais da cidade. O mesmo site da prefeitura nos dá a seguinte descrição:
O escudo de Olinda constitui-se em um globo terrestre encimado por uma Cruz Latina, circulado por um zodíaco com a seguinte legenda: “Deus Salvator Noster” (Deus nosso Salvador).

E acompanha uma imagem deste escudo, entalhado em pedra no frontispício da Igreja de São Sebastião, localizada no Varadouro, nessa cidade Não há esmaltes definidos, sejam cores ou metais.
Definições inconclusas povoam a heráldica de algumas nações, entre elas o Brasil. Sem as cores o mais correto seria afirmar que o brasão seria algo mais ou menos assim:

 
No entanto, esta não foi a única coisa que me ressabiou um pouco. No brasonamento, fala-se em circulado por um Zodíaco. Tudo leva a crer que o zodíaco a que se refere o criador das armas é a faixa que cruza o círculo em diagonal. Porém, é a primeira vez que vejo um Zodíaco atravessando um globo terrestre. Na verdade, vê-se ele mais em Esferas Armilares, como nessa imagem do Parker's Heraldry:

Sabendo disso, acabei pensando em duas possibilidades diferentes e aceitáveis para estas armas. Baseado nas cores que a prefeitura usa para as armas desenhadas nos táxis, na bandeira e no site, temos:


Os dois brasonamentos possíveis seriam:
1. De azul, um globo terrestre, encimado por uma cruz latina e circulado por um Zodíaco com a Legenda Deus Salvator Noster, tudo de ouro;
2.
De azul, uma esfera armilar, carregada da legenda Deus Salvator Noster e encimada por uma cruz latina , tudo de ouro.
Para essa semana, ainda tem mais achados, que serão tema de próximos posts.