Há alguns dias, o Ralf Hartemink, que mantém o
Heraldry of the World, perguntou no grupo
Heráldica Brasil, sobre algumas armas do Brasil Holandês, que foram impressas em estampas do
Sabonete Eucalol. Dentre as estampas, encontrei alguns Brasões coloniais. Dentre estes, me chamou atenção o que foi atribuído para São Luís do Maranhão.
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Brasão Colonial de São Luís, Estampa do Eucalol. |
São Luís é uma das cidades mais antigas do Brasil. Apesar de ser parte da América Portuguesa pelo Tratado de Tordesilhas, foi fundada como Saint-Louis de Maragnan, um forte construído pelos franceses, no ano de 1612. Em 1615 os Portugueses conquistaram o forte. Em 1641, ao mesmo tempo que mantinham outras colônias no nordeste brasileiro, os holandeses conquistaram São Luís, sendo expulsos pelos ludovicenses em 1645.
As armas, concedidas em 1647, são De prata, um braço movente da sinistra, armado e sustentando uma balança, tudo de sua cor, na qual servem de pratos dois escudetes. O primeiro, mais leve, é partido de França antigo e Holanda, e próximo a ele lê-se "Vis". O segundo, mais pesado, traz as armas de Portugal; próximo a ele, lê-se "Jus", e sob ele, lê-se"Prœponderae". Por timbre uma coroa.
Este brasão significa que o Jus (Direito) Português sobre a terra pesou mais que o Vis (vigor, força) dos franceses e holandeses, e por causa disso, a cidade voltou ao poder Português duas vezes.
No processo de reproduzir estas armas, contei com dados vindos através do
Brasiliana Heráldica, do Leonardo Piccioni (cliquem no link para ver a versão dele das mesmas armas).
Note-se que a versão da estampa do Eucalol trazia "Vis", nos dois pratos da balança, enquanto que a de Meireles, traz "Jus" ao lado do brasão Português. Citando a fonte na legenda da imagem anterior:
Nas Memórias do Estado do Maranhão diz o Padre José de Morais “que pesou mais o jus, ou a justiça das armas de Portugal, que o vis ou a fôrça das de França e Holanda, com imortal desempenho do valor português, e não menor glória da valentia daqueles ilustres moradores do Maranhão”.
Sabendo disso, optei por manter "Jus".
Outra das minhas dúvidas era se a coroa era real aberta ou mural. Não lembro de ter visto referências a coroas murais na heráldica portuguesa antes da República pelas terras de lá. Confirmei, ou ao menos baseei a minha escolha de usar a coroa real no
As cidades e villas da Monarchia Portugueza que teem brasão d'armas, onde constam diversas cidades que receberam armas ainda de D. Manuel (anos 1500), com direito a coroa real. Ainda não sou muito bom com desenhar coroas, mas gostei do resultado que obtive.
Estilisticamente falando, acompanhei o Leonardo na posição dos escudos. Enquanto que nas armas indicadas os escudos aparecem como pratos de balança, eu os deixei da forma mais natural, afinal, o que está sendo pesado são os escudos, não qualquer coisa sobre eles. Por fim, o leão no escudete franco-holandês. No Eucalol e em Meireles, o campo é azul, enquanto Piccioni usa as armas modernas de Nassau. Mas a meu ver, as armas que seriam mais corretas ali seriam as da
República das Sete Províncias. O leão dourado de Nassau sobre campo vermelho, sustentando uma espada e flechas (estas últimas não aparecem na imagem, lapso meu, logo será corrigido).
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Armas Coloniais de São Luís do Maranhão, minha versão. |