sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Uma questão de proporção

Desenhar brasões tem sido meu hobby há um bom tempo. E apesar de parecer fácil, depois que se pega o jeito com os softwares de desenho, com a linguagem e com as regras heráldicas, às vezes pequenos detalhes podem complicar toda uma criação, ou por vezes até torná-la inviável, precisando ser refeita. Acho que o principal exemplo disso é quando eu trabalho com proporções.

Muitas vezes, entre uma e outra fonte há diferenças de proporção nos escudos. Vera Lúcia Bottrel Tostes, em seus Princípios de Heráldica, e Luís Marques Poliano, em seu Heráldica, defendem que o escudo, independente da forma, deve possuir sempre a proporção de oito de altura por sete de largura.

Essa proporção é a que aparece, por exemplo, nos Brasões desenhados no Arquivo Nobiliárquico Brasileiro dos Barões Vasconcelos.
Armas Imperiais do Brasil, no ANB.

Outras fontes, dentre as quais os blogs da Comunidade Heráldica Espanhola, defendem a proporção de seis de altura por cinco de largura. Seis por cinco é inclusive a proporção adotada para o desenho oficial das armas de SM o Rei Felipe VI da Espanha, de acordo com o Decreto que as concede.

Armas sugeridas para a Heráldica, por Carrión Rangel.
Curioso com essa dicotomia, eu fui pesquisar as proporções dos escudos através dos séculos. Antigamente, os escudos eram mais longilíneos. Basta um bom filme de cruzadas ou um livro com gravuras e iluminações medievais.
Infantaria Italiana 1000-1300. Ilustração de Ian Heath.

Nos anos 1500, considerados o auge da Heráldica Portuguesa, os escudos ibéricos tinham a proporção de 6 por 5. Essa proporção parece ter sido abandonada depois em Portugal e no Brasil, tendo sido substituída pela proporção francesa de 8 por 7. Assim sendo, no Brasil Império esta segunda é que era utilizada.
Qual das duas lhes parecem mais correta?

Pensando em conceitos como tempo, tradição, momento histórico da heráldica e na própria figura física do escudo, decidi manter, nos meus desenhos heráldicos, as duas proporções. Quando produzindo escudos ibéricos (boleado, português, espanhol), manterei a proporção de 6 por 5, por ser a atualmente utilizada pela única autoridade exclusivamente heráldica oficialmente em funções na península ibérica, o Cronista de Armas de Castela e Leão. Para os escudos no estilo Samnítico (Francês, ou como eu carinhosamente apelidei, Brasileiro), manterei a proporção de 8 por 7. No fim das contas tudo depende do armigerado a ser representado. Sua origem, sua história, et cetera.

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