domingo, 27 de novembro de 2016

Regras Heráldicas: A regra das figuras


A série das regras heráldicas continua, e hoje temos a terceira regra. Você pode seguir para as duas publicações anteriores nos links a seguir:
  1. A regra dos esmaltes
  2. A regra das peças
Prosseguindo. A terceira regra da heráldica trata das figuras. A diferença das peças para as figuras é que as primeiras possuem tamanho definido e originalmente representam "honras". Figuras são mais elaboradas, com desenhos vivos e detalhados. Objetos, corpos celestiais, animais e figuras quiméricas são as figuras mais comuns.
3. As figuras naturais ou quiméricas, quando sozinhas, devem ocupar o centro do campo sem tocar em seus bordos.
Esta regra tem a ver com o posicionamento das figuras. Para ser vista, a melhor forma de se exibir uma figura é no centro do campo e ocupando o máximo possível de espaço, mas sem tocar os bordos. Para exemplificar, vamos ver a posição das figuras em seus respectivos campos.

Tanto o Leão quanto os castelos estão centralizados e ocupam o máximo possível de seus campos, sem invadir o campo das outras figuras.
Quando o formato do escudo e as figuras não se complementam, os espaços ficam vagos. Mas ainda assim, a figura está centralizada. Se ela aumentasse, tocaria os bordos do campo.



sábado, 26 de novembro de 2016

Regras Heráldicas: A regra das peças


A primeira regra da heráldica, também conhecida como regra áurea ou regra dos esmaltes, já foi explicada, e clicando neste parágrafo, você pode visitar a publicação.

Agora, continuando com a série, falaremos das peças. A segunda das regras fundamentais da heráldica diz que:

2. As peças honrosas devem ser colocadas nos lugares que lhes competem.

Sobre isso, vamos recordar o conceito de peças honrosas. As peças honrosas são figuras simples desenhadas sobre o escudo, que representam figurativamente o cavaleiro em batalha. Partindo do princípio da divisão do escudo em nove partes, podemos reconhecer algumas peças. que representam tradicionalmente a terça parte do escudo, segundo Armengol e Poliano.

Na primeira fila: A pala, a faixa, a contrabanda e sua irmã mais nobre, a banda.
Na segunda fila: a cruz e o sautor,

A regra diz que as peças devem ser colocadas nos lugares que lhes competem, ou seja, sempre ocupando a terça parte do escudo. Porém eventualmente a terça parte do escudo pode ser espaço demais, dependendo do desenho. Num escudo ibérico, de base redonda, a parte inferior perde muito de seu tamanho. Notem na banda e na contrabanda o pouquíssimo espaço neste setor. Para solucionar este problema da falta de espaço, acostumou-se, sem prejuízo ao brasonamento, estreitar estas peças, para ocuparem excepcionalmente menos que a terça parte, quando as peças vierem acompanhadas por figuras que precisem de espaço.
CAMPINA GRANDE: Asna estreitada para acomodar as espadas
MONTMORENCY: Cruz estreitada para acomodar os aleriões

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Regras Heráldicas: A regra dos esmaltes


Estava relendo posts antigos deste blog. Este ano é de longe o mais ativo. Eu falei sobre adoção de armas pessoais, falei sobre uma sociedade heráldica que de heráldica não tem nada, falei de outra sociedade de heráldica, que até tem heráldica, mas que infelizmente não funciona, falei dos brasões dos Vice-Reis do Brasil, expliquei que brasonar e embrasonar não é a mesma coisa, falei até mesmo da Branca de Neve. Mas tem uma coisa que eu nunca postei aqui, e acabo de me dar conta. As Regras Fundamentais da Heráldica. Nos próximos dias, vou explicar uma a uma as seis regras da heráldica, justificando-as e dando exemplos.


1. Não se deve sobrepor metal sobre metal, cor sobre cor ou forro sobre forro.
 A primeira e mais famosa das regras, nos lembra da separação básica entre os esmaltes. As tonalidades usadas na heráldica dividem-se em metais (ouro e prata), cores (azul, vermelho, preto, púrpura e verde) e forros (arminhos e veiros).

As cartelas tonais que eu uso para desenhar heráldica digital.
Estas tonalidades foram divididas assim para facilitar na hora de combinar cores, garantindo que durante uma batalha, adversários e inimigos seriam facilmente reconhecidos, pelo contraste.

Batalha de Navas de Tolosa, Julho de 1212. Mais de trinta mil soldados. Imaginem se não tivesse como reconhecer esse povo todo.

Neste caso, evitava-se colocar uma figura ou peça de um metal sobre um campo também de metal, para não ficar difícil de ver, com o sol refletindo nos escudos e a distância entre os combatentes. Exemplificando. Olhe para a imagem abaixo. De cima, de baixo, de lado, afaste-se da tela, veja de longe, de perto, com um foco de luz, de todas as formas que puder... Tente ver como um soldado medieval veria, e note a importância do contraste.
Se contrasta, combina. Se não contrasta, não combina.
Esse princípio segue em uso ainda hoje, quando se precisa facilitar a visualização de coisas, como por exemplo nas placas dos carros:

Atenção: a regra diz não sobrepor. O que quer dizer que está tudo bem, por exemplo, partir um escudo de prata e ouro, para representar duas armas diferentes:
Estas armas, Partido de "Castro" e "Meneses", não violam a primeira regra da heráldica, pois não há sobreposição, mas divisão.
Nas próximas publicações, as outras regras serão devidamente explicadas. Não vão para muito longe!

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Mais Registros Heráldicos


Atendendo a pedidos, decidi voltar com a série de publicações sobre como adotar armas pessoais. Para quem não leu desde o começo seguem os links:

1. Conceitos Básicos
2. Registros Heráldicos

Para hoje, vou falar de mais duas possibilidades de registro de suas armas pessoais. Caso você não possa traçar linhagem a uma família armigerada nem tiver, por quaisquer motivos, possibilidade de oficializar suas armas com algum órgão oficial, registrar suas armas é importante para garantir que nenhum outro heraldista vai adotar ou vender um desenho que representa você. É uma forma de garantir a sua propriedade intelectual de forma extra-oficial e reconhecida por outros membros da comunidade heráldica pelo mundo.

As armas do Henderson Roll of Arms. Notem o escudo das minhas, na segunda fileira, pouco depois do centro da imagem.
Primeiro, o Henderson Roll. Oficialmente o "Society of Commoners Heraldic Roll of Arms", parece ter ganho esse apelido pelo sobrenome do seu idealizador, Mark Anthony Henderson. Ele é um compilado das armas pessoais dos membros da Society of Commoners Heraldry, um grupo no Facebook onde as pessoas discutem especialmente heráldica para gente que não faz parte da nobreza.


Outro registro que conheci recentemente foi o AssumeArms.com. É um registro de números modestos, e pessoalmente acho que o nível de organização visual é inferior aos outros, mas pronto, esta é a minha veia de designer falando. O sr. Richards, idealizador do registro, foi extremamente solícito e tratou das minhas dúvidas de forma correta. O registro é simples e claro. Por 30 dólares, o solicitante pode ainda receber um certificado.

Ps. Ainda estou aceitando perguntas, pedidos e sugestões de pauta para este blog. Podem deixar nos comentários!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Donald Trump

É o assunto mais comentado da mídia mundial. Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, pelo colégio eleitoral daquele país. Eleito pelo partido republicano, venceu a candidata Hillary Clinton, do partido democrata.
Armas dos Estados Unidos da América. De prata, seis verguetas de vermelho; chefe de azul, pleno.
Donald John Trump deve seu sobrenome a uma alteração idiomática. Ele é neto de Friedrich Drumpf, nascido na Alemanha, e que adotou o nome de Frederick Trump quando emigrou para os Estados Unidos, atraído pela febre do ouro no Oeste. Não há até onde eu descobri, armas para esta linhagem. Sua ascendência materna, de origem escocesa, pode ser traçada. Donald filho de Mary Ann McLeod, nascida na Escócia, no clã McLeod.
Armas do Clã McLeod. De azul, um castelo de prata, aberto e iluminado de vermelho.
Mas a relação do mais polêmico presidente americano em talvez dois séculos não acaba aqui. Trump é um homem rico, e como alguns ricos, dado a certas excentricidades. Há alguns anos, o magnata comprou terras na Escócia, para construir um hotel destinado a jogadores de golfe. E para promoção e decoração do hotel, usou o seguinte logo, muito parecido com um brasão, mas não-cumpridor das regras heráldicas.

Brasonar isso é meio incômodo. Embrasonar é ainda mais, mas eu fiz o possível. A composição é de péssimo gosto e descumpre a primeira regra da heráldica. Um horror.

De prata, semeado de cifrões de ouro. Brocante, duas asnas encurtadas entre três leões sentados rampantes, tudo de ouro.
Eu não gostei, os heraldistas locais não gostaram, e quem também não gostou nadinha foi a Corte do Lord Lyon, autoridade heráldica oficial em terras escocesas. O imbróglio jurídico iniciou em 2008, e quatro anos depois o Trump International Golf Links ganhou novas armas.

Este brasão está menos pior. Analisando sem ter acesso ao documento legal da Corte de Lord Lyon, me parece que inúmeros "jeitinhos" heráldicos foram dados aqui. A qualidade da imagem também não ajuda, mas se eu tivesse de brasonar (e embrasonar) estas armas, seriam o seguinte:

Armas do Trump International Golf Links. De prata. três asnas de ouro, fimbriadas de negro, acompanhadas em chefe de duas estrelas de negro vazias do campo, e em ponta de uma águia bicéfala de negro, carregando dois bezantes de prata nas garras. Brocante, debrum de negro.

Ainda não são umas armas muito bonitas. Quase empatam com as do marido de sua adversária eleitoral, o ex-presidente William Jefferson "Bill" Clinton, concedidas em 1995, pelo Heraldo-Chefe da Irlanda, por ocasião de visita de Clinton ao país.


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Pausa prolongada, volta com sugestões!

É um pouco chato iniciar uma série de publicações e ter de interrompê-la.

Dessa vez, uma soma de fatores interrompeu as publicações aqui no Blog de Armoria. Dia 02/11 foi feriado, Dia de Finados. Depois, desde ontem e até domingo (06/11), ando às voltas com o ENEM, que volto a fazer após três anos, para ir em busca da minha segunda graduação, agora em História (para quiçá ser um acadêmico no ramo da heráldica).

As publicações recomeçam na segunda-feira, com mais conteúdos interessantes que eu encontrei na última semana. Ainda assim, gostaria de sugestões de conteúdos para os próximos dias.


Deixem nos comentários dúvidas sobre heráldica, sugestões de publicação e pedidos de informação, e a seu tempo, irei responder a todos. Se eu não souber de algo, vou descobrir, seja em livros, fóruns de discussão, com outros heraldistas mais sábios que eu... Mas garanto a resposta!

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Bibliografia on-line para o heraldista brasileiro


Eu tenho uma biblioteca recheada, que venho juntando desde que comecei o blog. Tudo quanto é livro heráldico que eu encontro pela internet e está diponível, eu arranjo, de álbuns armoriais da Alemanha Nazi até uma edição "pirata" do Armorial Lusitano. Isso é claro, quando se fala em eBooks.

Já a minha coleção de livros físicos é bem mais humilde, composta de livros usados, vindos de sebos, comprados a preços bem baixos mesmo, o que se nota pelo estado deles. Mas considero todos eles muito bons. Em especial, sou apaixonado pelo "Heráldica" de Alejandro de Armengol y de Pereira, que é de 1933 e ainda está em bom estado. O outro "Heráldica", do Luís Marques Poliano, está bem mais desgastado, mas ainda assim é meu maior companheiro para as dúvidas.

Eu sou o Rony Weasley dos livros de heráldica.

Enfim, gabolices à parte, o assunto de hoje é esse mesmo. Fiz um compilado com os melhores livros e artigos para os iniciantes na matéria, disponíveis gratuitamente na internet. Decidi focar em material de língua portuguesa, mas há links em espanhol também, os quais com um pouquinho de paciência dá pra se ler de forma tranquila.

  1. Armaria Portuguesa, de Brancaamp Freire. Chega de procurar brasões em sites de lojinhas suspeitas. Praticamente todos os brasões de linhagens portuguesas estão aí. Uma edição antiga, datada de 1908 (e portanto, em domínio público por todo o planeta), está disponível para download.
  2. Tratado de Armaria, de Joaquim Augusto Correia Leite Ribeiro. Na minha opinião é definitivamente a melhor das cartilhas sobre heráldica que existe. Vale fazer o download e ler inteiro.
  3. Tratado de Heráldica y Blasón, de Francisco Piferrer. Para mim, está entre os melhores livros já produzidos sobre a matéria, resumido mas completo. E ainda é um excelente repositório de figuras, com bastantes imagens, em especial de ordens. Em espanhol.
  4. Archivo Nobiliarchico Brasileiro, dos Barões Vasconcelos e Smith de Vasconcelos. Sem dúvida, a mais famosa obra sobre a nobiliarquia brasileira, traz uma boa quantidade de brasões dos nobres do império. É uma excelente fonte de pesquisa para interessados em nobiliarquia e genealogia.
  5. Archivo Heráldico-Genealógico, do Visconde de Sanches de Baena. Obra essencial para genealogistas e heraldistas pesquisando sobre o segundo reinado.
  6. Introdução à Heráldica Portuguesa, do Marquês de Abrantes. Essa é uma obra bem recente, com apenas 24 anos de publicação, e bem difundida. Não sei se está em domínio público, mas está na primeira página do Google, então bastante gente a possui.
  7. Taller de Heráldica, de Jose Antonio Vivar del Riego, é a fonte de informação mais concisa sobre desenhar escudos, na minha opinião. É em espanhol.
Espero que aproveitem.